Análise: Wandinha da Netflix transbordou discordâncias dos bastidores

Série colecionou divergências que provavelmente afetaram personagens


Wandinha da série da Netflix. Interpretada pela atriz Jenna Ortega
Wandinha a personagem principal da série (Foto: Divulgação/Netflix)


Por: Lucas Pemasan

    Mesmo após dois anos de seu lançamento Wandinha disponível na Netflix sinaliza de forma tímida os motivos de ter se tornado um sucesso mundial. No mês de maio de 2024 a série estampou os pacotes da marca de biscoitos, globalmente famosa, Oreo. Alguém sempre  lembra que ela está lá esperando pela nossa atenção. 

    A primeira temporada teve oito episódios e se mostrou uma grata surpresa, mesmo com contrariedades expostas nascidas nos bastidores. O diretor Tim Burton tem uma assinatura própria, mas tão peculiar, que seus filmes falariam seu nome sem este precisar estar nos créditos. 

    São elementos suficientes, os cenários e contextos de como as histórias são contadas por ele. Como dito Tim Burton é conhecido pelos FILMES. Mas em Wandinha o diretor que flerta com a imaginação e caminha de mãos dadas com as cores e com o abstrato é ligeiramente mais contido. Quem não se lembra de Edward Mãos de Tesoura? Ou Marte Ataca?

    Em Wandinha o diretor aparentemente deixou as excentricidades das próprias histórias dos personagens aparecerem naturalmente, sem acrescentar muito da sua marca à série. Em palavras claras e no clichê: "sem pesar a mão". Um Tim mais tímido digamos. Totalmente o contrário do que se espera do jeito de ser e de trabalhar do cineasta norte-americano.

    É quase inevitável comparar a atuação de Jenna Ortega na série, com a de Christina Ricci que fez Wandinha nos dois filmes lançados nos anos 90. Principalmente porque Christina neste seriado interpreta a professora Marilyn Thornhill.

    Christina Ricci que encarou dois longas metragens interpretou uma Wandinha mais sombria, com senso crítico notável e um legítimo negativismo, características muito próximas originalmente da personagem do cartunista criador Charles Addams. Jenna Ortega segue uma linha parecida, mas fez (ou foi obrigada a fazer) pequenas concessões ao mostrar a nós, uma Wandinha mais condescendente e ligeiramente emocional com as pessoas do seu circulo, embora tente de sobremodo não transparecer. 

    Mas há uma precisa e necessária observação. A Wandinha de Jenna Ortega quase implora para que torçamos pelas relações afetuosas nas quais ela é inserida, o que parece antinatural para uma personagem que conhecida desde sempre pela característica de cultivar solidão. Responsabilidade de quem? A própria atriz declarou em entrevistas que possuiu divergências com o roteiro por não concordar com os rumos: leia mais aqui

    O tio Chico (Fred Armisen) merece um parágrafo apesar de ser secundário. Ele é um ser com hábitos estranhos. E apenas isso. Mesmo os poderes não o tornam diferente ou destacado na série. Aparentemente forçado com pouca ou sem carisma. Destoa do resto dos personagens que funcionam em sinergia até certo ponto. A composição teatral para a série do ator não parece convencer ou trazer experiência de entretenimento/imersão. Uma interpretação ao que tudo indica insossa. Era mesmo necessária a participação dele? Ou foi culpa dos roteiristas ele ter sido construído assim?

    Wandinha é uma série proveitosa e certamente uma interessante opção de maratona. Para ver e rever. Mas é fato também que as polêmicas discordâncias dos bastidores ao que tudo indica, afetou significativamente os rumos das personagens e o curso das histórias. Resta saber se a continuação com a segunda temporada terá as divergências solucionadas.

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